quarta-feira, 30 de março de 2011

dia 03

29 de novembro Sarandi/PR – Foz do Iguaçu/PR (420 Km)

Algum tempo depois de sairmos, já próximos de Cascavel, avistamos no acostamento uma fábrica de Motorhomes, a Vettura. Após abastecermos próximo, decidimos voltar lá para conhecer um pouco do trabalho deles. Mas era sábado e perto da hora do almoço,  logo, não havia vendedores para nos atender, (apesar de termos sido bem recebidos). Tomamos um café, vimos folderes e ficamos de água-na-boca de ver as conversões de todo tipo que há, desde carretas até um insólito Marruá. Planejar "A viatura" prá ir mais longe... tão longe... tão perto!

Pé na estrada e a paisagem agora era formada por extensas plantações de soja, mantendo gigantescos silos à distância uns dos outros. Olhando aquele horizonte monótono eu matutava tentando descobrir algo que justificasse a sangria desatada daqueles pedágios, pois grande parte dos trechos nem pista duplicada havia.

Chegando a Foz, resolvemos ir direto ao Paraguay aproveitar o período da tarde para umas compras. Decisão insensata que transformou-se quase numa roubada, pois estávamos em dois carros chamativos e abarrotados de bagagem. Passamos a ponte da amizade, seguimos pela avenida principal, mas nos sentimos bem pouco à vontade de descer do carro. Estivemos em Ciudad del Este alguns anos atrás e não recordávamos de ser deste jeito, talvez por ser praticamente dezembro e a atividade de "importação" estar a todo vapor para o natal.


Além do trânsito caótico de vans, taxis e motocicletas de costume, nos chamou a atenção desta vez foi ver muitos seguranças particulares empunhando escopetas nas portas das lojas. Pretendíamos ver repuestos para a Moby e o preço dos pneus. Na revenda local, o lojista nos informou que a fiscalização está atenta e desaconselhou tentar passar de pneus montados, mas que poderia mandar entregar do outro lado, desde que pagando adiantado. Hehehe! Sem chance! Como já estávamos desconfortáveis e tensos, decidimos ir embora o quanto antes. Desisti até de ver as peças. 

O que eu queria naquela hora não era ganhar na mega-sena: era só chegar do outro lado da ponte. Nem água mineral de ambulante eu arrisquei  comprar apesar dos protestos das meninas. Passamos tranqüilo pelo controle, mas meus pais ficaram e tiveram o carro revistado. O fiscal resolveu encrencar porque havia muitas camisetas iguais (uniforme de uma expedição passada). Bueno, depois de maiores explicações, foram liberados.
E esta foi nossa curtíssima etapa no Paraguay.

Resolvemos relaxar e irmos até as cataratas, mas o dia estava curto. O parque já havia fechado. A esta altura nós buscávamos um pouso, e vimos que ao lado da portaria do parque tinha uma estradinha de terra. 
Pois esta estradinha nos levou direto ao CCB de Foz do Iguaçu, um lugar muito aprazível e que logo decidimos ficar. Fomos recebidos pelo simpático casal Nery e Shirlei, que juntos dão duro  para manter funcionando a estrutura deste belíssimo lugar,  cuja tranquilidade só é abalada pelo vai-e-vem dos helicópteros dos vôos panorâmicos. 
 
Nota-se que este camping já viveu dias melhores, e hoje se sustenta basicamente dos almoços servidos aos motoristas de vans de turismo, pois já não há tanta procura por camping. Depois de estabelecidos, fomos ao Shopping Duty-free situado na zona do “limbo” entre Brasil e Argentina para, enfim, umas comprinhas. Destaque para o esqueminha drive-thru da migração brasileira. Tudo muito tranqüilo e descomplicado. Aproveitei para me informar na cabine se haveria alguma restrição de entrar na Argentina por conta do meu RG ter mais de 10 anos. Disseram que não haveria problema.
Após o jantar, retornamos ao camping. O pernoite foi beleza, estreamos finalmente o cafofo à sombra de árvores enormes, embalados pelos sons da mata. Houve algum desconforto por conta dos mosquitos, do calor e a umidade, o que me levou a refletir se este arranjo dentro do carro seria bem sucedido em incursões pelo norte e nordeste do Brasil, mas se mostrou bastante adequado para esta viagem. 



terça-feira, 29 de março de 2011

dia 02

28 de novembro - interior/SP - Sarandi/PR (630 Km)

Eu, Mi e Bilu ao lado da Moby, Bené ao lado da Land e Kimie no registro da partida.

Enfim, o time completo... vamos para o jogo! Primeiro deslocamento em “comboio” e já sinto mudar um pouco a percepção das coisas. Ficar seguindo aquela Land Rover 110 me traz um sentimento estranho, pois até então eu sempre viajava embarcado no banco de trás. Esta viagem seria minha estréia atrás do volante em tempo integral, e das meninas nesse tipo de maratona.
Longe em meus pensamentos, eu cantava baixinho "frete", música de Renato Teixeira.


Testamos também a comunicação entre os carros, feita por meio de Talkabouts, pois são relativamente baratos, prometem um alcance razoável e não dependem de licensas para utilização. Achei, a princípio, adequados ao nosso propósito, pois estávamos só em dois carros e andávamos quase sempre próximos, mas é um esquema com suas limitações. A primeira coisa que percebemos foi a baixa autonomia com as baterias originais. Dependendo do uso não duravam até o fim do deslocamento. Resolvemos adotar uma freqüência de emissão mais econômica, mas chegou ao ponto de deixá-los desligado e só ligar quando era feito algum um sinal de luz. A questão só foi solucionada a contento com a adoção das velhas pilhas alcalinas.


Pegamos um tempo bastante ruim já no fim do dia, com tempestade de vento e chuva forte o que nos levou a reconsiderar a proposta de estrearmos o “cafofo” (nosso esquema de dormir onboard) já no primeiro pernoite. Adiamos para Foz do Iguaçu e buscarmos o aconchego de um hotelzinho em Sarandi/PR (Hotel Quinte).

dia 01

27 de novembro BSB - SP/interior (860km)


Ahhh... enfim, pé na estrada!
Saímos tarde (9h45) para um dia longo de asfalto, mas este caminho me é bem familiar. Logo se deixa o "quadradinho" prá trás e com isso, um pouco da correria e as preocupações. A proa aponta para uma simpática cidade do interior paulista, onde meus pais escolheram morar depois de muitos anos de Rio de Janeiro. Boas E$TRADA$ em SP mas alguns trechos em Minas e Goiás com obras e outros precisando de manutenção. 


Na chegada noturna, saudades, abraços, novidades, um bom vinho e o acerto dos últimos detalhes. Apesar desta viagem não ter as pompas de camisetas, bonés e adesivos personalizados de outras ocasiões, minha mãe não descuidou de providenciar um a testeira “Expedição Lagos Andinos 2010”  ficando, de agora em diante, batizada nossa viagem.

segunda-feira, 21 de março de 2011

no quase...

25 e 26 de novembro – Brasília

Depois de uma etapa de finalização de compromissos no trabalho e na escola, no caso da pequena Bilu (que passou de ano direto e com ótimas notas) ,  o grande dia havia finalmente chegado!

Conforme previsto na versão corrente (3.2) das várias versões do roteiro que discutimos, deveríamos partir de Brasília no dia 25 de novembro. Contudo, ainda faltava uma lista enorme de pequenas e grandes coisas  "brasileiramente" deixadas pra última hora, por conta da correria do dia-a-dia. Com dificuldades de controlar a ansiedade na iminência de um grande movimento, buscávamos racionalizar e focar nas prioridades, como a finalização da estrutura interna de apoio. 

 
Lembrei de um pensamento que resume bem minha aflição: “por mais perto que estejamos de um ponto de chegada, sempre faltará metade do caminho a se percorrer” (como bem lembrou meu pai, essa é a idéia matemática de Limite). Sim! Era fundamental que eu concluísse este gaveteiro/plataforma pois dependeríamos disto para viabilizar nossa dormida dentro do carro, no melhor estilo carro fúnebre. Após um forte exercício de desapego, deixei os detalhes de acabamento de lado e consegui finalizar a estrutura , que se mostrou resistente e funcional. 

  Em sentido horário: a Bilu testando a idéia da futura cama;  as "coisas" testando o espaço
do futuro gaveteiro; as cortinas (by Michelle) e o "cafofo" montado.

Prontos ou não, chega uma hora que simplesmente é preciso partir, pois o tempo de férias é um tesouro que devemos zelar, principalmente em uma jornada longa como esta. 

 
Confesso que na minha cabeça a viajem já havia começado faz algum tempo, desde a etapa de colheita de informações, planejamento e dos preparativos, que contribuíram para a criação das várias versões do roteiro e o checklist de viagem, a preparação da Moby, realizadas à prestação nos finais de semana, além do corre-corre atrás da documentação necessária para realização desta empreitada. Me instigaram nesta fase, sites como o 4x4brasil, Mochileiros e outras fontes (possíveis de acessar na coluna que criei ao lado, denominada “viajando junto”), o fundamental “manual do quebra-galho - guia do viajante”, gentilmente cedido pelo colega  Murilo Galvão, além é claro as inúmeras conversas com a “outra” parte da equipe viajera lá de São Paulo - meus pais, Bené e Kimie - aos quais nos juntaríamos já no fim do primeiro dia.
Na derradeira noite, cansado e com os olhos fechados no travesseiro, a distância entre eu meus queridos amigos de longa data, meus companheiros por excelência e eternos guias por estas e por outras estradas da vida, repentinamente ficou curta.

De antemão, já fica a observação de que não é  prudente  programar a partida de uma viajem deste tipo logo para o primeiro dia de férias, mesmo planejando com alguma antecedência, a não ser que se consiga ser muito, mas muito disciplinado!
Estes dois dias de atraso foram pesados, de muito trabalho e poucas horas de sono, mas foram fundamentais.

domingo, 20 de março de 2011

Plano de fundo

A história desta viagem surgiu mais ou menos assim:

Em 2010 Michelle (minha esposa) e Eu programamos tirar um mês corrido de férias juntos. Para onde iríamos exatamente, nós ainda não sabíamos. Apesar da data já estar definida com ano de antecedência, rolava uma certa preguiça de decidir. No meu íntimo, desejava fazer uma grande viajem de carro, de preferência, percorrer a região patagônica, cuja beleza sempre me encantou.

De alguns anos pra cá, desenvolvi grande interesse e afinidade pela cultura e paisagens Latinoamericanas, já tendo feito duas viagens, em 2001 (Argentina e Chile) e 2006 (Paraguai, Argentina, Chile e Peru), que me marcaram de formas diferentes, com seus momentos singulares de deslumbramento, de prazer e de aprendizado intensos, que me fizeram despertar para ver (e viver) a vida de uma outra perspectiva.  


Em maio de 2010, conversando com meus pais, eu havia comentado que sentia grande vontade de visitar a região dos lagos andinos, quem sabe, para o fim do ano. Eles comentaram que este destino também estava nos planos deles e que eles também topariam ir.  

Neste meio tempo, surgiu a oportunidade de trocar de veículo por um mais adequado, unindo desta forma grandes paixões: natureza, viajar, acampar e guiar um 4x4.
Essa aquisição foi o empurrão que faltava para começar freneticamente os preparativos!

Tivemos efetivamente 3 meses para planejar e nos preparar para a viajem. O fato de já termos algum conhecimento prévio e experiência neste tipo de empreitada ajudou bastante nesta fase. Morando a mais de 800km de distância, a troca de informações entre nós se deu por e-mails e telefonemas. O cerne do planejamento foi a construção do roteiro, onde consideramos o tempo disponível, destinos, pernoites e atrações que gostaríamos de ver. Mapas, guias, indicações e pesquisa na internet foram fundamentais nesta fase.

 Roteiro de viagem (fonte: Googlemaps)

Definimos que nós iríamos em dois jipes, ambos adaptados para dormir dentro, pois nos daria mais autonomia de escolha dos locais de pernoite. Levaríamos algumas provisões para refeições em camping, mas é claro, teríamos pelo menos uma boa refeição por dia em restaurantes locais. Onde fosse possível acampar, daríamos preferência, porém sem descartar pousadas, albergues, hotéis ou até mesmo postos de gasolina. Sempre tentando balancear a equação custo/benefício.

 
Em outubro nos reunimos em São Paulo para combinar os detalhes. Também foi a chance de testar o desempenho estradeiro da MOBY, nossa Toyota Land Cruiser 80, veterana de 17 anos de idade, mas a caloura do time que faria a viagem.  

quarta-feira, 16 de março de 2011

.curtindo a distância mais longa entre dois pontos.

Olá a tod@s, bem vindos a este Blog!

A proposta deste espaço é de relatar uma viagem que fiz com minha família de 4x4 nos meses de novembro e dezembro de 2010 para Argentina, tendo como meta conhecer um pouco mais da maravilhosa região dos Lagos Andinos, na Patagônia. 
Acompanhe os preparativos, as impressões que tive dos lugares e de alguns personagens interessantes que encontrei, os fatos importantes e até músicas que combinam com o que eu estava vivendo no momento. Ah, veja também o que foi planejado e o que pôde ser realizado neste período. 
Também busquei, como um exercício íntimo, pormenorizar algumas passagens da forma mais completa quanto consegui lembrar, e espero que este esforço de incluir nomes, cardápios e até diálogos não torne a leitura demasiado aborrecida. 
Ficaria satisfeito se, de alguma forma, estes escritos pudessem encorajar o surgimento de outros relatos de viagens, pois tive a oportunidade de ler alguns muito ricos enquanto "viajava mentalmente" pelos mapas e fotos de satélite nas semanas que antecederam o percurso físico. 
Nesta estrada de mão dupla, espero trazer boas recordações aos que já passaram por lá e levar informações aos que sonham ou que planejam viajar assim: percorrendo os milhares de kilometros que separam (e aproximam)  A e B... 

Enfim, espero que curtam!